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"Levanta-te e Trabalha Mulher!"- PARTE I

Se hoje tenho a possibilidade de poder escolher a carreira que quero seguir, é porque no passado alguém lutou para que isso fosse possível, sim, porque nós mulheres nem sempre tivemos a liberdade de escolha que temos hoje, se nasci com isso foi porque muito se lutou. No entanto, muito ainda está por fazer e é ingênuo pensar que vivemos numa sociedade totalmente livre, na qual homens e mulheres vivem harmonia e nos mesmos pés de igualdade. IGUALDADE, ora aí está o ponto crucial desta batalha que já dura séculos: Homens e Mulheres têm os mesmos direitos? Não!!

Sempre ensinaram-me a lutar pelas coisas que quero, a fazer-me merecedora dos privilégios que procuro para mim, "Levanta-te e trabalha Soraya!" dizia-me a educadora do CBE. "Nada cai do céu, tens que te esforçar para conseguir". Mas e quando o problema não é falta de esforço, quando o problema é mais fundo, quando está no gênero e na cor?

O que mais tenho na vida são exemplos de mulheres que trabalharam até a última gota de sangue: a minha avó, quando saiu de Cabo Verde aos 18 e se mudou para São Tomé, já levava anos de trabalho nas costas, trabalhou como empregada doméstica, nas roças de cacau, para criar 10 filhos.

Quando vim ao mundo, a 23 anos, não tive a honra de nascer pelas suas mãos como aconteceu com alguns dos meus primos. Aos 53 anos já tinha muitos netos e a sua casa já servia de playground para a criançada, além dos filhos que criou, ajudava a criar também os netos e todos a chamavam de "mamã". Foi mãe em duas rondas. Dona de casa a tempo inteiro, costureira de todas as roupas que vestiram os 10 pedaços de si, e alguns que ainda vesti. Trabalhou no campo e sempre vi nela uma força incrível, um exemplo de mulher, daquelas que levantam e trabalham.

Muitas das nossas avós e mães viveram realidades semelhantes a essa, mas o séc XX trouxe mudanças que os movimentos feministas conquistaram, no entanto, hoje ainda existem lugares que nos são negados porque somos mulheres.

Num olhar atento ao mercado de trabalho conseguimos identificar alguns dos obstáculos enfrentados pela mulheres. O preconceito contra a mulher no trabalho é algo bem real e está expresso a diversos níveis. Na distribuição das mulheres pela áreas por exemplo: as atividades precárias são na sua maioria exercidas pelas mulheres, nas profissões liberais em que as mulheres poderiam ter um salário mais elevado ainda há desigualdade. Por exemplo na saudê, as mulheres encontram-se maioritariamente em profissões nas áreas de genecologia, dermatologia e pedicure, que são áreas menos bem pagas. Enquanto que os homens estão na sua maiorias exercem funções como neurologistas e médicos, atividades essas com maior remuneração.

No sector industrial as mulheres também não estão muito presentes, encontram-se mais em sectores de prestação de serviços, nos transportes são menos ainda. Nos sectores de alta tecnologia também se verifica uma baixa percentagens de mulheres.

Essa separação começa a formar-se nas escolhas dos cursos da faculdade: cursos de engenharia são na sua maioria frequentados por homens, são ambientes extremamente masculinizados nos quais as mulheres se sentem desconfortáveis por causa do assédio sexual e do sexismo.

Nestes ambientes não há miscigenação e isso inibe a presença da mulher, refletindo-se muitas vezes nas suas escolhas que acabam por ser feitas não em função das suas capacidades, mas sim por não haver conhecimento das suas capacidades e por não se ver representada em determinada área.

Nos últimos anos as mulheres alcançaram um nível de escolaridade superior ao dos homens, no entanto ainda é a eles que são atribuídos os salários mais elevados. Isso não acontece porque são mais qualificados( até porque estudos como do Eurostat comprovam que as mulheres são mais qualificadas), mas sim porque à mulher é colocada mais obstáculos no acesso a esses cargos, existe a descriminação com a maternidade, o questionamento das suas capacidades e o puro preconceito machista.

Sempre que reflito sobre o percurso que tenho que correr para construir a minha carreira, penso nestes obstáculos que temos enquanto mulheres, penso em todas as coisas que me vão ser negadas por ser mulher, e por isso é que falo, reclamo e não me calo! Por isso é que contentar-me com pouco é coisa que não me passa pela cabeça, por isso é que digo" levanta-te e trabalha mulher!!", trabalha para estar atenta às possibilidades que podes alcançar, esteja ciente de que podemos ser mais e ir além do que aquilo que a sociedade quer para nós, levanta-te mulher porque podes ser mãe a tempo inteiro pois isso também é trabalhar pesado, levanta-te porque também podes ser taxistas e ser feminina, levanta-te mulher para ser presidente, diretora, líder. levanta-te para ser tudo isso e muito mais, levanta-te e vamos sê-lo enquanto Mulheres e como Mulheres!



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