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"Levanta-te e Trabalha Mulher!"- PARTE II

Já foi atendido por uma médica negra? No seu local de trabalho, quantas mulheres negras são chefes ou estão em cargos de coordenadoras? Quantas mulheres negras têm o ensino superior? Onde estão as mulheres negras no mercado de trabalho?!

Tantas perguntas fiz a mim mesma quando comecei a pesquisar para este post, porquê que somos tão poucas no mercado de trabalho? Não fazia sentido para mim, pois sei bem que somos muitas e que trabalhamos e muito. Precisei procurar fora do quadro oficial para encontrá-las, as mulheres negras que trabalham desde cedo em duas ou mais casas particulares para sustentarem as suas casas. Porque estão lá e não num consultório médico?

A mulher está numa posição desfavorável no que toca ao mercado de trabalho, como já foi referido no texto anterior, mas a mulher negra estaá numa posição ainda mais abaixo. Para além de não haver representatividade da mulher negra nos escalões mais altos do mercado de trabalho, ela também não encontra em ambientes mais íntimos uma figura de referência. Na sua maioria, as únicas imagens de sucesso que têm são das suas mães que trabalharam em cargos menos qualificados e mais humildes.

A ausência da mulher negra no mercado de trabalho também esta relacionado com a "boa aparência", mas o que é "boa aparência"?

A meu ver, boa aparência resume-se a um cuidado de si quanto à imagem e à saúde física e mental, mas num contexto multicultural boa aparência é sinônimo de embranquecimento, portanto, quanto mais próximo o negro estiver do branco, quer na sua postura, linguagem, aspecto físico (cabelo, nariz, boca, etc), quanto mais se distanciar da "imagem negra", mais facilmente será um bom candidato ao posto de trabalho. A cor da pele irá funcionar nestes casos como condicionante para a conquista do lugar, ela acaba sendo uma penalização.

Engana-se quem pensa que é um exagero, talvez para ti que não avalias os candidatos da tua empresa pela "boa aparência" e sim pela competência isso possa parecer absurdo, mas a verdade é que ainda temos que ouvir coisas como "o seu cabelo não é apresentável", ou "o seu cabelo não combina com a imagem da empresa", ou ainda "tens um tom de pele demasiado escuro para trabalhar na televisão".

Nós só não estamos nos altos cargos por causa de condicionantes como as que referi, mas também porque não estamos representadas em espaços dos media modernos, é preciso dar lugar a esta discussão e dar às mais novas heroínas casos de sucesso nos quais se possam espelhar e construir um sonho de um futuro diferente daquele que a sociedade espera delas. É preciso construir uma nova geração de negras formadas, a mulher negra precisa de qualificação, pois só através da educação poderemos reivindicar os nossos direitos, quanto mais qualificadas mais aptas estaremos para enfrentar as dificuldades do mercado de trabalho. Mas antes é fundamental facilitar o acesso à educação e desconstruir a ideia escravocrata de que somos inferiores, é preciso travar a ideologia capitalista que premei-a essencialmente o macho rico e branco. Este é um desafio que começa quando mandamos para os bancos das escolas as nossas meninas, é um investimento humano que deve ser feito com visão nas mudanças que se quer para o futuro.

Não se iluda em pensar que a mulher negra trabalha em posições baixas porque quer ou porque é mais fácil, pelo contrário, ela começa a trabalhar mais cedo e por um período de tempo mais longo, tem mais dificuldade em inserir-se no mercado de trabalho pelas razões já referidas. Está associada apenas aos cargos subalternos e descriminada por isso como se tal fosse algo mau (eu cheguei onde cheguei por causa de uma doméstica que se esforça todos os dias para manter o lar seguro e estável para que eu possa estudar).

Aos 17 ou 18 anos começam a trabalhar para sair das ruas, ou para proporcionar renda para ajudar nos encargos familiares. À mulher branca não se exerce tanta pressão para se formar rápido e ajudar a família, enquanto que para as negras existe a necessidade de se formar mais rápido e entrar no mercado de trabalho. Uma opção são os cursos profissionais, uma vez que são meios mais curtos para alcançar esse objectivo. Muitas outras abandonam os estudos por causa da gravidez na adolescência e assim constrói-se uma família sem exemplos de sucesso diferentes daqueles que se marca a este grupo. A sociedade já premei-a o negro que termina o secundário sem roubar, ou engravidar, pois numa visão geral já conseguiu algo que a maioria não alcança.

È preciso passar a mensagem que este não é o único caminho, não é a unica opção, somos mais capazes do que aquilo que nos querem fazer crer, é preciso mostrar que podemos ultrapassar os limites que nos são impostos, é preciso levantar e procurar um exemplo fora se for preciso, é preciso falar da sua luta para que outras se sintam motivadas a tentar também, levanta-te mulher, cria um mundo melhor para as nossas filhas, levanta-te para construir o teu lugar no mundo, levanta-te para ser a médica que eu não vejo hoje, para ser a presidente que todos admiram, para ser a imagem na qual outras se possam inspirar.


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