Sublime Tentação

Toda mulher, por mais simples que seja, tem a sua pérola de vaidade, umas mais que as outras, algumas têm-na tão pequena, que um olhar mais desatento pode mesmo não identifica-la. Ela esta lá , ela existe, mulher que é mulher quer se sentir bela, seja qual for o conceito de belo.

A mulher caboverdiana é sem dúvida uma mulher vaidosa, preocupada com a sua imagem. Ela procura estar bela, mão só para os outros , mas essencialmente para si. Vi esse amor próprio com a minha mãe e tias, mulheres cheias de atitude que em pequenos gestos do dia a dia como cuidar da pele, do cabelo ensinavam-me o maior dos amores: O amor Próprio

Esses hábitos de partilhar momentos de mulheres ajudou-me a desenvolver toda uma história de amor comigo mesma.

O cabelo é para mim e para uma grande maioria das mulheres um elemento fundamental( se não o mais importante) no que diz respeito a beleza. O cabelo é a moldura do rosto e sem ele muitas mulheres sentem-se nuas e desprotegidas.

O cabelo afro é um cabelo com atitude, eu chamo-lhe petulante. Nem todas têm a atitude para usar um cabelo armado, o afropower é poder e uma alma fraca acaba por ser engolida pelo cabelo. É como uma roupa, fica bem em algumas, noutras não favorece assim tanto.

É sobre este tipo de cabelo que requer tanta audácia e atitude que eu vou falar. Hoje no trabalho a " Ana" ( nome fictício) , uma velha amiga contou-me que ela e a mãe passaram por uma situação constrangedora num dos salões da cadeia de salões Sublime Tentação, justamente por causa do cabelo afro.

As duas tiraram o dia para cuidar do cabelo e decidiram alisar o cabelo para "mudar o rosto". O painel de preços indicava que o serviço custava 5 euros.

Quinze minutos foi o tempo necessário para ficarem lindas. Qual não foi o espanto das duas quando a funcionária cobrou 10.50 pelo serviço, alegando que sobre o valor fixado sob recaía uma taxa de 5.50 euros porque " têm o cabelo africano e é mais difícil".

Não queriam acreditar no que ouviam. Utilizando os mesmos produtos, a mesma técnica como pode um serviço ficar mais caro só por causa do tipo de cabelo? Desconheço a existência de uma taxa sobre um serviço por causa da natureza do cabelo ou outro serviço de beleza.Nunca vi um salão que cobrasse mais em função do tipo de cabelo, por essa lógica também as mulheres com cabelos cacheados deviam pagar mais? Fiquei revoltada!

Quem disse que o cabelo carapinha, cacheada, afro ou seja lá o que lhe quiserem chamar, é um cabelo mau, difícil? Quem decidi se é mau ou bom? É diferente não mau! Burrice, ignorância, parvoíce, estupidez, nojento é a forma que classifico esta atitude.Um representação da mais pura ignorância.

Não é admissível que um estabelecimento tenha esta postura em relação a diversidade étnica. É certo que não sou a favor de negras adulterarem o estado natural dos seus cabelos, para se aproximarem do ideal de beleza imposto. No entanto, têm o direito de querer fazer e não devem se sentir humilhadas por causa disso.

Eu mesma, antes de encontrar o amor pela minha imagem, tentei alisar o cabelo com químicas e todo tipo de técnica para alcançar o "liso da barbie", chorei e entrei numa espiral de destruição da minha própria imagem, na tentativa de chegar ao que via em revistas e TV. Pior perdia mais cabelo a cada tentativa frustrada, até que rapei o cabelo e comecei do zero. Aprendi a ter a atitude certa para o usar o cabelo afro.

Tentei aprender mais sobre ele e apaixonei-me, encontrei nele aquilo que sou enquanto pessoa. Dinâmica, autentico, poderoso,com personalidade, forte, duro, Crespo como deve ser e se quer que seja.

É sublime a tentação de dizer que ele é mau, quando não se conhece. "É complicado ter o teu cabelo", " parece palha de aço", "coitada, não dá para fazer nada".

Gente burra! vão se informar,ele cresce, dá para fazer tudo e mais alguma coisa! Mau é ter que explicar para as pessoas que ele é diferente.

Situações como estas devem acontecer por salões de todo o portugal, há quem se cale e volte para casa humilhada, mas eu não aceito e tu não deves aceitar! A diferença étnica, cultural, física e qualquer outra não deve ser taxada, etiquetada pela ignoraria.

As cacheadas, crespas e carapinhas " Let it Fro! big hair never bothered anyway!"